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Sonhar é pra quem tem audácia

  • - Foto: atentado de 21 de março de 1960, que resultou em 69 pessoas mortas, em Shaperville (Joanesburgo) na África do Sul.

Por Vítor Fernandes

21 de março marcou os 63 anos do atentado a 69 pessoas na África do Sul

Setenta e cinco anos. Esse é o tempo que separa a data em que a comunidade internacional decidiu e concordou que os direitos humanos são para todos, independente de país, estado ou cidade. Estes direitos estão descritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, importante documento para as normas humanitárias. A declaração afirma que todos possuem os mesmos direitos e liberdade, sem distinção de nenhum tipo, como raça, cor, sexo, etc. Porém, 75 anos depois, a discriminação racial continua sendo um tópico necessário a ser discutido e resolvido.  

A data, 21 de março, faz lembrança do dia em que 69 pessoas foram mortas em um protesto pacífico em Sharpeville, na África do Sul. Mais de 20 mil pessoas protestavam contra a Lei do Passe, que obrigava pessoas pretas a portarem cartões de identificação que ditavam lugares em que eles podiam, ou não, acessar. Uma lembrança dolorosa, que, até os dias atuais, pode ser reconhecida em milhares de situações discriminatórias diárias. 

Desde então, foi decidido que 21/03 seria um dia para ser lembrado. No entanto, acontecimentos diários de preconceito e racismo ainda existem e deixam cicatrizes fundas em todos. A estudante de medicina veterinária, Iasmyn Basílio, de 20 anos, conta que possui memórias muito felizes da infância, porém não se esquece dos traumas que a acompanham. Na época do primário, a jovem contou que em um episódio de surto de piolho, um colega insinuou que, devido ao seu cabelo, ela quem estava passando para todos. “Ele disse para minha amiga, em um tom super alto ‘é fulana, cuidado com piolho, cuidado com quem tu anda’ e desde aquele dia, eu tenho um trauma. Lembro como se fosse ontem”. A menina conta que até hoje possui dificuldades em aceitar seu cabelo natural. 

Assim como Iasmyn, outras mulheres pretas sofrem com situações parecidas. Maria Rita Felix Soares, mulher preta, empreendedora, mãe e esposa, sente que esse assunto já devia ter sido eliminado. “Esse dia não é para ser somente lembrado por nós, negros. Eu falo isso como mulher, como mãe, como empreendedora que tem a pele preta, que tem os filhos pretos e que os ensina que podem passar algum tipo de discriminação racial”, afirma a empreendedora. Maria diz também que, infelizmente, precisa preparar seus filhos para o mundo lá fora, onde eles irão enfrentar casos de preconceito e precisarão ter força para lidar com isso. 

“Hoje não tem mais desculpas para errar. Nós estamos em uma era de tanta informação, onde tudo está ao nosso alcance, a informação está ao nosso alcance. Você não erra mais por não saber. Você erra porque é racista.” - Maria Rita Felix Soares

“A discriminação racial tem que fazer parte da educação dos pais, para que a próxima geração não venha a sofrer”, expressa Maria. A empresária também afirma que é importante que essa data não seja lembrada apenas pelas pessoas pretas, e sim pelas brancas, também. "Infelizmente, hoje, na nossa cidade [Imbituba] a gente vive, sim, momentos em que nós somos vistos, ainda, pela cor da nossa pele e não pela nossa contribuição na sociedade”, diz Maria Rita. 

“Não é apenas um dever dos pretos se pronunciarem, mas de todos se colocarem como antirracistas.” - Ticyane Vasconcelos

A perpetuação de atitudes racista, enraizadas na cultura mundial, está cada vez mais sendo desafiada pelos movimentos atuais, porém essa luta não será ganha sozinha. Ticyane Vasconcelos, coordenadora geral do grupo FAIEP Uniasselvi, expressa que todos devem deixar de reproduzir falas que apenas prejudicam a luta contra o racismo. Ela também indica que expressões e atitudes racistas ditas na frente de crianças propagam, em longo prazo, um padrão de comportamentos preconceituosos.

“Para mim, é um dia importante e ao mesmo tempo, eu não queria que ele existisse”, é com essa fala que Vinicius Pires, de 20 anos, inicia seu relato. O jovem diz que possui uma experiência diferente de muitas pessoas negras, mas bastou uma situação em sua vida para que ele jamais esquecesse da dor que o racismo causa. 

Acompanhado de uma amiga, Vinícius foi para a casa da avó dela para que a mesma pudesse cuidar do apartamento, já que a senhora estaria viajando e pediu para neta checar o local. No momento, os dois, juntos, decidiram aproveitar o sol e ir na piscina do condomínio. Em algum momento, um zelador, branco, dirigiu-se à menina e a questionou se ele realmente estava com ela e não incomodando a jovem. “Eu fiquei muito triste com isso, sendo que quem deveria se sentir mal, na verdade, é quem age dessa forma”, disse Vinicius. 

“Estou cansado de realmente só ser valorizado quando eu estou bem vestido, quando estou em grupos de amigos específicos e, mesmo assim,  consigo ver no olhar das pessoas esse tal julgamento.” - Vinicius Pires

Depoimentos como estes trazem sentimento de revolta e quase nenhuma esperança. Porém, a história está fadada a se repetir quando esquecida, mas em tempos como os atuais, mostram que não será assim. Com artistas e personalidades pretas recebendo a gratificação que merecem e o sucesso que tanto trabalharam para conseguir, milhares de crianças conseguem ver nas telas pessoas como elas e se sentirem representadas. 

“Não dá pra ser forte o tempo todo

Eu me pergunto quanta dor pode aguentar um corpo

Quando se é pobre, negro e gay, você já tá no lodo

Sonhar é pra quem tem audácia de encarar o jogo” Trecho da música Quem? - grupo Quebrada Queer

A pena para quem pratica o crime de injúria racial aumentou de um a três anos para dois a cinco anos de prisão.

Se você presenciou um caso de racismo, não se cale. Ligue 181 para denunciar.


Fonte: Nações Unidas e Gov.br


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