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Entrevista

Mês do Autismo: conheça o rapaz que descobriu seu TEA aos 23 anos

  • (Imagem Sarah Zambardino) - Mês do Autismo: conheça Lucas e sua experiência com o TEA

Clube de Desbravadores foi grande incentivo para o desenvolvimento da área social na vida de Lucas

No mês de abril, mês do autismo, a equipe do RSC Portal decidiu ouvir as experiências de um autista e tentar mostrar um pouco da visão de alguém no espectro. Lucas Rodrigo Carvalho, de 29 anos, é natural da cidade de Santo Ângelo, no Rio Grande Sul, mas se mudou para Imbituba há cerca de 9 anos. Hoje, ele sabe que é autista, tipo 1, mas nem sempre teve esse conhecimento, vindo a confirmar o diagnóstico aos 23 anos de idade.

“Minha mãe diz que sempre soube que eu era autista, desde pequenininho, lá pelos 3, 4 anos de idade, só que na época não tinha suporte. Ela dizia “eu quero tentar tratar ele como uma criança normal”. Ela sofreu, eu dei muito trabalho pra ela, mas muito mesmo”, contou ele.

“Quando eu tinha 23 anos, agora eu tenho 29, que ela pegou e me falou sobre o autismo. Foi muito bom, porque é muito chato, pensa, tu estar vivendo tua vida normal, mas tu olha as pessoas, olha para ti mesmo e pensa - eu sou diferente -, só que eu não sei no que que eu sou diferente, mas eu sei que sou diferente”, compartilhou ele, falando sobre o alívio que sentiu ao entender pela primeira vez suas diferenças.  

AMAI

Depois de fazer os testes e confirmar o CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), Lucas conheceu a AMAI. O nome do projeto é Associação dos Amigos dos Autistas, a AMA, e se tornou AMAI após acrescentarem o “I” de Imbituba ao nome. 

“É massa pra caramba. Eles têm terapias em grupo e tudo mais, que é bem útil. Eu fiz terapias em grupo lá e foi legal pra mim”, lembrou ele.

TEA

É comum que as pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) tenham dificuldades em algumas áreas, principalmente na área social de suas vidas. De acordo com Lucas, um exemplo dessas limitações é a incapacidade de compreender piadas, sarcasmo e ironia.

“Se você tá falando, só que falou sem mudar a expressão do teu rosto, eu não vou entender, eu vou achar que é verdade. Com o tempo fui me ligando nisso. Se você faz uma piada, a primeira coisa que eu vou tentar fazer é entender a lógica da piada, se eu não entender a lógica, eu não vou conseguir rir, vou perguntar porque e às vezes a pessoa fica olhando com cara de tacho’, explicou ele rindo.

Uma grande dificuldade enfrentada nos últimos anos foi a pandemia, que fez com que não só os autistas, mas milhares de pessoas passassem a ter dificuldade em socializar. “Eu sei que antes da pandemia era de um jeito e agora, após a pandemia, eu sou de um jeito diferente. Esses dois anos me quebraram legal na parte de interação com as pessoas. Quando acabou a pandemia, as coisas começaram a voltar ao normal, mas pra mim foi complicado, eu fiquei pensando - como é que eu interajo agora? Como é que eu faço? O que é que eu fazia? - Eu não lembrava - comentou ele sobre ter que se readaptar no período pós covid.

Na visão de Lucas, as pessoas costumam focar em crianças e adolescentes, deixando um pouco de lado  jovens ou adultos no espectro. “Quando as pessoas conhecem alguém assim, autista, adulto, eles vão ávidos para conversar, tirar dúvidas”, explicou ele.



“Geralmente as pessoas normais, digamos assim, nascem com várias configurações de fábrica, tudo prontinho. O autista nasce com um monte de configuração faltando. Ele tem que se configurar, e não vem manual junto”, acrescentou.

Muitos pais ficam perdidos ao lidarem com uma criança com TEA, e de acordo com Lucas, mesmo que alguns autistas venham com “upgrades”, tendo mais facilidades em algumas áreas, ainda haverão “peças” faltando. Ao serem surpreendidos por uma situação com a qual nunca lidaram antes, é comum ficarem perdidos, mesmo que se trate de uma atividade simples.

“Mesmo que seja a coisa mais simples do mundo, mas se é a primeira vez que aconteceu comigo, vou ficar muito perdido, não vou saber pra onde ir, como resolver, como fazer.  Agora, se depois acontecer de novo a mesma situação comigo, eu já vou saber melhor como resolver, eu vou usar a experiência a primeira vez para começar a trabalhar ali”, explicou. 

Muitas pessoas, principalmente os pais, querem estar junto e fazer alguma coisa legal com a criança com TEA, mas a criança pode vir a reagir de um jeito extremo, totalmente diferente do esperado. “É comum que amigos e familiares se sintam mal diante da situação, achando que a criança não gosta dela ou então que ela é uma péssima mãe, péssimo pai e por aí vai, só que não tem nada a ver com isso”, destacou.

É preciso tentar conhecer o tipo de autista que você tem por perto, todos são diferentes. Ao descobrir o tipo e as coisas em que tem interesse, é muito mais fácil interagir.

“Todo autista é diferente, não importa o tipo, se é um, dois ou três. As pessoas normais, todas elas são diferentes entre si, no mundo dos autistas, nas categorias um, dois e três, vai ter vários um, vários dois, vários três e nenhum vai ser igual ao outro. O que pode acontecer é eles terem semelhanças entre si, mas um autista nunca vai ser exatamente igual ao outro”, explicou Lucas. 

Desbravadores 

Ao ser questionado sobre seu hiperfoco, se haveria um, Lucas apontou o Clube de Desbravadores. “Eu consigo ficar passando horas falando sobre o clube. Ele faz com que você desenvolva coisas que geralmente na escola ou em casa tu não vai desenvolver”, contou ele. 



O clube é uma organização sem fins lucrativos, que recebe meninos e meninas com idades entre 10 e 15 anos, de diferentes classes sociais, cor e religião. Os desbravadores reúnem-se, em geral, uma vez por semana para aprender a desenvolver talentos, habilidades e o gosto pela natureza.

“O clube é uma bênção e é, na minha família, meio que tradição, meus tios, primos, avós, meus pais, minhas irmãs, todos fizeram parte de clubes. Eu já cresci nesse mundo, o Clube de Desbravadores faz parte do meu mundo”, destacou.

“Tem uma frase de Darwin, que diz que não é o mais inteligente, nem o mais forte que sobrevive, mas que o melhor se adapta, o clube me ajudou muito nisso. O clube aceita bem todo tipo de criança, adolescente, adulto, independente da idade que for a pessoa e do que que ela tem e a pessoa vai se desenvolver legal”, acrescentou ele. 



O grupo vibra com atividades ao ar livre. Gostam de acampamentos, caminhadas, escaladas, explorações nas matas e cavernas. Sabem cozinhar ao ar livre, fazendo fogo sem fósforo. Demonstram habilidade com a disciplina e combatem, também, o uso do fumo, álcool e drogas.

Os jovens trabalham em equipe procurando sempre serem úteis à comunidade. Prestam socorro em calamidades e participam ativamente de campanhas comunitárias para ajudar pessoas carentes.

Atualmente Lucas, que já tem muitos anos de experiência na área, é um dos líderes distritais do Clube de Desbravadores, orientando e auxiliando 4 clubes na região. 

Por Duda Indalêncio

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