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Diversidade

“Eu nasci aqui, eu cresci aqui, eu sou travesti”: Laura Pereira é a primeira mulher trans/travesti a se casar na cidade de Imbituba

  • - A cerimônia foi realizada no Praia Eventos, com uma vista linda para Praia da Vila. - Foto: Hellen Rezena Fotografia/Divulgação

O casamento de Laura com o Italiano, Richard di Bari, aconteceu neste último domingo (14)

Para muitos, o casamento é um dos momentos mais importantes da vida. Para outros, ele significa apenas mais um ciclo que está sendo iniciado. Para Laura Pereira, a união matrimonial significa uma celebração do seu amor e do seu corpo. Laura é uma mulher trans/travesti e fez história neste último domingo (14). Seu casamento é a primeira cerimônia LGBTQIAPN+ internacional realizada aqui, em Imbituba, e contou com um dia ensolarado, sem nuvens e uma vista perfeita da Praia da Vila. 

Richard di Bari, seu marido, veio da Itália para que os dois pudessem oficializar o matrimônio no Brasil.

Laura é imbitubense e com 22 anos teve a oportunidade de ir para a Europa, na Espanha, fazer um curso de 6 meses de História da Moda. Ela conta que essa decisão foi um divisor de águas, pois a partir dali sua vida tomaria um rumo totalmente diferente. No entanto, nunca desistiu de ter sua independência financeira, algo que para ela é uma das coisas mais importantes. “É horrível uma mulher ser submissa de homem, ter que ficar dependendo. Toda mulher tem que ser independente financeiramente”, disse Laura.

Laura conheceu Richard em Milão, na Itália, o qual é chefe de cozinha e atualmente está no ramo de imóveis.

O amor dos dois é um retrato de que travestis podem, sim, ter um final feliz, mesmo em uma sociedade que ainda está lutando para acabar com o preconceito. Os corpos trans são invisibilizados e o apoio da família, em um momento de transição e descoberta, é crucial. Seu pai, Osni Osmar Pereira, sempre esteve ao seu lado, apoiando todas as decisões.

Foto: Hellen Rezena Fotografia/Divulgação/RSC Portal


“Ela é minha filha”, afirmou Osni ao contar que também nunca teve problema com a identidade de gênero e sexualidade de Laura. “Eu vou sempre defender a bandeira deles [pessoas trans], pois é a bandeira da minha filha”. Osni entrou com Laura na cerimônia, um ato que, infelizmente, acaba sendo um privilégio para as pessoas trans. No entanto, nenhum momento da tarde foi marcado por tristeza, e sim, apenas o sentimento de felicidade e celebração. 

“Uma vez no ano que a gente casa uma travesti. Então, é muito importante estar aqui hoje e celebrar a perpetuação da nossa história”, disse Andreia, amiga de Laura e também mulher trans. 


Foto: Hellen Rezena Fotografia/Divulgação/RSC Portal


“O nosso corpo não está em nenhum livro, então, eu não posso ler sobre ele, só me espelhar em outros. Meu corpo começa e termina na vida da Laura hoje, como começa e termina nos corpos de outras travestis”.

Bruna Jesus, primeira mulher transsexual de Imbituba, é uma das pessoas que Laura mais se espelhou durante sua trajetória. As duas são amigas e Bruna a ajudou em momentos cruciais para sua transição, que, para cada corpo travesti, é única. “O casamento da Laura está sendo uma felicidade entre eu e ela”, disse Bruna. 

“O que ela conseguiu realizar, automaticamente, ela está realizando para mim, como amiga trans, e outras travestis também”, afirmou Bruna. 

O casamento de Laura e Richard quebra tabus na cidade, por ser um local ainda com muito preconceito, principalmente para a comunidade LGBT+. Pesquisas indicam que a taxa de desemprego é muito maior entre pessoas trans do que as outras identidades da sigla LGBT. Isto se deve por como os corpos transsexuais são vistos. “A mulher trans/travesti é criminalizada e marginalizada até hoje”, disse Laura durante entrevista para reportagem. “A questão da barba, cabelo e seios, nada disso te faz menos mulher. Como você se sente é o que vai dizer”.

Hoje, Laura é Miss Beauty Trans Italia (edição de 2023), e entrou no mundo da beleza na mesma época que conheceu seu esposo. Com uma carreira consolidada e independência financeira, Laura prova que é possível para pessoas trans realizarem sonhos. Ainda assim, para que, hoje, ela pudesse desfrutar disso, muitas travestis tiveram que morrer. Ruan Vinicius, amigo e também um homem trans, falou um pouco sobre esta conquista. “O casamento dela com um homem cis mostra que as mulheres trans podem, sim, ser felizes no amor, na amizade, no mercado de trabalho e em todas as áreas”

Foto:Hellen Rezena Fotografia/Divulgação/RSC Portal


“Para ela chegar onde ela chegou, em poder casar com um homem publicamente, muitos de nós tiveram que morrer para ela estar usufruindo disso e ela é muito merecedora [dessa conquista].” - Ruan Vinicius, amigo da noiva.

Com intermédio e tradução de sua esposa, Richard contou que para ele é uma felicidade poder conhecer a família e amigos de Laura, pois para os dois, a família é uma das coisas mais importantes da vida. O empresário também citou que o apoio dos parentes e amigos são essenciais. 

Laura, onde chega, transforma o ambiente com sua luz e espontaneidade. Assim como seu nome, Laura é sinônimo de vitoriosa e gloriosa, sendo assim, 14 de janeiro de 2024 é um marco para sua vida, Imbituba e para todas as pessoas trans/travestis que vieram antes dela. 

Por Vítor Fernandes
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