Julyane Felipette e Marcus Fontana apontam uso excessivo, riscos de plágio e a importância do letramento digital como desafios para alunos e docentes

Com o avanço acelerado das ferramentas de Inteligência Artificial (IA), o uso dessas tecnologias já começa a transformar significativamente os ambientes educacionais. Chatbots como o ChatGPT, imagens realistas geradas por IA e aplicativos de automação se tornaram recursos comuns no cotidiano acadêmico. Para refletir sobre o tema, os professores Julyane Felipette Lima, da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Chapecó, e Marcus Vinícius Liessem Fontana, do Campus Cerro Largo, compartilharam suas experiências e preocupações quanto ao uso da IA por estudantes e docentes.

De acordo com Marcus Fontana, o uso da IA já é perceptível nas produções entregues por alunos. “Como ensino língua espanhola, tenho encontrado textos que claramente foram criados por IA. Um professor conhece o perfil de seus alunos e, quando um estudante com dificuldades apresenta um trabalho perfeito do ponto de vista linguístico, é evidente que houve interferência”, afirma. Para ele, o uso inadequado gera distorções no processo de aprendizagem. “Há quem use a IA como ferramenta de apoio, mas muitos ainda a utilizam como substituto do raciocínio próprio”, pontua.

A professora Julyane destaca que a ferramenta costuma ser empregada pelos estudantes em etapas iniciais de produção, como sugestões de ideias, organização de slides e revisão de textos. Contudo, ela alerta para os perigos do uso indiscriminado: “Os alunos estão deixando a IA raciocinar por eles. Isso torna os processos de aprendizagem enviesados e gera problemas como plágio, falta de pensamento crítico e abandono dos clássicos da literatura acadêmica”.

No ponto de vista dos dois professores, a IA deve ser encarada como uma ferramenta de apoio, e não como substituta da inteligência humana. “Ela pode funcionar como consultora, especialmente para tarefas operacionais ou para relembrar conceitos. Mas sempre com o olhar crítico do professor e do aluno”, afirma Marcus. Ele ainda chama atenção para um dos principais problemas técnicos da IA: a geração de referências falsas ou imprecisas em textos acadêmicos, o que compromete a qualidade da produção.

Marcus também aponta que o uso responsável da IA exige que o usuário saiba fazer boas perguntas. “Quanto mais complexas as perguntas, melhores as respostas. O problema é que a IA não tem limites para tentar responder, mesmo que para isso precise inventar. Por isso, usar IA exige parcimônia e conhecimento prévio.” Para Julyane, docentes também podem se beneficiar da tecnologia, usando-a para organizar cronogramas de aula, pensar estratégias didáticas e adaptar conteúdos ao perfil da turma.

O desafio maior, segundo os entrevistados, está na formação de professores e alunos para o uso crítico e consciente dessas ferramentas. “Não adianta achar que pedir trabalhos escritos à mão vai resolver o problema. Precisamos de letramento em IA, tanto para docentes quanto para discentes”, defende Marcus. Ele reforça que o domínio das tecnologias não se resume ao uso de redes sociais: “Fazer dancinhas no TikTok não prepara ninguém para uso acadêmico da tecnologia”.

Julyane concorda e acrescenta que a inovação, no contexto educacional, não significa apenas adoção de tecnologias duras, mas também o resgate de práticas humanas e criativas. “Precisamos estar atentos ao que o ecossistema ao nosso redor exige. Nossos alunos não são ‘nativos digitais’ no sentido pleno. Eles precisam de orientação e de professores preparados para conduzir esse processo”, conclui.

Por Redação RSC, com informações Portal UFFS

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